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domingo, 7 de fevereiro de 2010

BAR DO ZÉ
cerveja self service e vagabundagem

Por Lucas Borges e Luciano Costa - especial para a Agência Lóki.
Fotos: Luciano Costa

Fala diretoria. E aí primo! Como é que tá, amizade?. No Bar do Zé não tem seja bem-vindo e fique à vontade não. O ambiente é descontraído. Ali o cliente se sente em casa.

O estabelecimento em questão fica na Rua Amazonas, uma travessa da Avenida Goiás, uma das principais de São Caetano do Sul. Mas o lugar não segue o padrão da bem freqüentada Goiás. São duas portinhas estreitas, uma churrasqueira visivelmente fora do lugar, um freezer de gelo, três de cerveja. No fundo, um balcão. Ainda mais no fundo, engradados e mais engradados de cachaça e da loirinha.

O balcão tem tudo o que um balcão de boteco deve ter. Uma pia, garrafas de bebida, salgadinhos e amendoins. Só falta uma coisa. O dono do bar. José França Carneiro, o Zé, realmente não se esforça para agradar a clientela. Seu posto é uma cadeira de plástico, logo na entrada. Dali ele não sai pra nada. Bigode e barriga vastos, jaleco azul ou paletó na estica. Suas pernas ficam atravessadas em uma outra cadeira e é preciso tomar cuidado para não tropeçar logo na entrada. Ao passar pelo ‘mestre’, pede-se a benção.

“Fala Zé! Pode pegar uma breja?”. Zé faz um sinal, permanece em silêncio. Quem cala consente. O cliente pega sua cerveja, procura o abridor e os copos, senta na mesa. “Tá em casa garoto!”. Se o cliente quer ser servido pode se complicar. “Vagabundo! Pega a cerveja lá, vagabundo!”, reclama o Zé com um garoto que pedia uma Skol.

Zé contou à Agência Lóki um pouco sobre sua vida. Seus pais, paraibanos, vieram para o ABC paulista e começaram a trabalhar com comércio. Ele ajudou desde cedo. Antes disso, com 11 anos, puxava o carrinho das madames na feira por umas moedinhas. Também chegou a arrumar bicicletas pra ter seus trocados. Mais tarde, abriu seu próprio negócio. Seu pai faleceu cedo, com 57 anos. Sofreu um enfarte. Sua mãe já tem mais de 70. “Mas tá mais conservada que eu”, ressalta Zé.

Ele já se casou duas vezes. Da primeira se separou sem ter nenhum filho. Com a segunda mulher, está junto até hoje. “Quando me casei ela era assim”, diz mostrando o dedo mindinho. “Agora, tá um balão. Só fala em dinheiro. Quer fazer lipoaspiração. Vou ter que pagar”, reclama.

Filho, lipoaspiração. Tem que trabalhar então, né? “Trabalhar...? Não sei o que significa isso não”, fala o dono do bar. “Eu fico sentado aqui olhando o povo beber, só isso”. Quando o movimento não ta lá essas coisas, fica vidrado na televisão. TV a cabo, coisa fina. Seus canais preferidos são os de filmes. TNT, Cinemax, HBO, Telecine.

O gosto pela televisão se reflete no próprio aparelho, de plasma, grande, de fazer inveja a muito bar top. Em dias de jogo, muita gente se reúne ali para torcer. Zé também. São Paulino, grita e comemora os gols do time. Aproveita também para zicar os adversários, principalmente o Corinthians. “Time de vagabundo!”.

A telinha só fica de lado quando a coisa ferve. Não que o Zé tenha que se desdobrar pra atender a todos. Muito pelo contrário. Ele sai da cadeira pra deixar o clima descontraído. Liga o som, coloca um funk. “Som das antigas. Já dancei muito isso aqui quando era muleque”. Gira, rodopia, mostra seu gingado. Parece voltar no tempo. Passa uma morena do outro lado da rua. “O maravilha...vamo toma uma cerveja, boneca”. O homem vira um garoto.

Clientes mostram sua felicidade no Bar do Zé

Zé conta que já curtiu muito a vida. Lembra que não saia das boates. Bebia pra valer. Todo dia fumava um cigarrinho desses que deixa a gente mais tranqüilo. Hoje só fuma de vez em quando. As coisas mudaram.

“Não agüento mais beber não. To fraco”, diz, depois de dar uma golada em uma garrafa de água gelada. “Ressaca né...”. Tinha bebido 13 doses de Maria Mole no dia anterior.

Perto da meia noite, começa a tocar as pessoas pra fora do bar. “Acabou gente, vamo embora! Daqui a pouco vai passar fiscalização aí!”. Pega caixas e vai guardando as garrafas. Faz as contas das mesas e pede pra que os próprios clientes arrumem tudo. Põe pressa em todos. No fim, já baixando as portas, começa a gritar de novo. “Quem vai lavar a louça? Vem alguém aí lavar a louça! Vagabundos ! Seus vagabundo!”.

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